segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A minha irmã será sempre o meu bébé grande.
Temos nove anos de diferença. Mudei-lhe fraldas, assisti aos seus primeiros passos, foi o meu primeiro amor pequenino.
Um belo dia, tinha ela uns dois anos, lembrei-me de aparecer ao pé dela com uma máscara de carnaval horrorosa, de bruxa. Ela estava a ver televisão, sentada no bacio e eu apareci por trás e chamei-a. Ela caíu do bacio num choro desesperado. Arrependo-me até hoje. Durante anos, ainda pequenina, teve medo de máscaras e de ir ao carnaval. Porque é que fazemos coisas tão más quando somos crianças?
Sempre achei a minha irmã a coisa mais linda e encantadora que podia existir. Por essa altura a minha irmã era uma bolinha de carne. Os bracinhos dela pareciam paios. Parece que estou a vê-la, de palmeirinha no cimo da cabeça e bochechas enormes. Num passeio que fomos dar com amigos da família eu dizia a toda a hora "Olha lá zé manel, a minha irmã não é liiiinda?" Consigo ouvir-me a dizer isto, com a minha voz de criança entusiasmada com o mundo. Dizia a toda a gente que a minha irmã era linda, e era a maior certeza que tinha na vida. Nunca a achei gordinha. Tinha umas belas pernocas para morder e uma barriga sem igual para fazer cócegas, apenas isso.
Hoje em dia gostamos de ver fotos antigas e rimos muito. Rimos dos pulsos de chouriço, dos penteados e das roupas da mãe, do bigode do pai e da minha cara de adolescente carregada de borbulhas.
Quando dormíamos na mesma cama, a minha irmã acordava de manhã e ensonada dizia "abraça-me". E eu abraçava-a e ficávamos assim, quentinhas por dentro e por fora. A inocência deste pedido vive no meu coração até hoje.
Sempre tentei imaginar como seria a nossa relação quando eu tivesse trinta anos e ela vinte. Agora já sei: somos amigas, partilhamos segredos, chateamo-nos, e continuamos a dormir abraçadinhas.
Ela cresceu, mas hei-de sempre protegê-la. Porque ela para mim é a mais linda, é o meu bébé grande que ainda me chama mana.


Este verão esteve três meses longe de casa. As saudades foram muitas e o regresso foi o esperado: dias felizes com muita conversa para pôr em dia e muitos mimos ao sobrinho. Ainda tivemos direito a visitar a casa que foi a dela durante o verão: a caravela boa esperança.


























1 comentário:

  1. Lagriminha no canto do olho :') vou ter 60 anos e tu 70 e continuarei a chamar-te pelo único nome que conheço e a pedir-te abracinhos matinais! És e sempre serás a minha melhor amiga e confidente Mana ♥

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