quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Férias (parte DOIS)
Há muito tempo que não passava por uma depressão pós-férias. A última vez foi quando voltei da Malásia.
Cheiros densos que ainda hoje recordo, a peles curtidas, couro quente. Faz-me sentir em casa, em segurança, quando me lembro desses dias. O velho cego na paragem dos autocarros. O fumo, vapores por todo o lado. As ruas transpiradas, as burkas, o trânsito louco.
Os gritos dos macacos no cimo das árvores, os duches de água fria, as tempestades nocturnas. A selva que fazia destilar cada poro, os insectos que mais pareciam helicópteros. O quase terror de cada vez que saltava para aquele oceano desconhecido, imenso, cheio de vida. Tantas memórias, tantas recordações. Fui profundamente feliz, lá. Do outro lado do mundo.
Quando voltei da Malásia não conseguia dormir. Achava que metade de mim tinha lá ficado, que tinha sido um erro voltar. Podia comprar um barquito e transportar turistas de ilha em ilha. Ao meio-dia sentava-me à beira-mar, abria uma folha de jornal e comia arroz com as mãos.
Um dia hei-de voltar.
Desta vez também não foi fácil regressar à vida de todos os dias. Embora noutra dimensão totalmente diferente, esta semana que passei no Algarve com a minha família e amigos foi curta em tempo mas enorme em muitos sentidos. Reencontrei uma amiga de sempre, vi e revi amigos, fiz serões no sofá com a minha mãe, que tanto adoro. A minha mãe e os serões. Bisavós de coração derretido com o bisneto, avós com a casa cheia de algazarra e animação. Idas ao parque, praia, piscina, passeios pela cidade onde toda a gente se conhece, mariscadas, saídas à noite. Banhos de mar como só me recordo em criança, demorados. Em que todos nós somos sal, nos fundimos com o mar que já tem um tom prata, ameaçador, ao final do dia.
Para ser perfeito só faltou a minha irmã, de quem tanto sinto a falta. Volta depressa cordeirinho.
Desta vez não precisei de ir ao outro lado do mundo para ser feliz.






































Sem comentários:

Enviar um comentário