sexta-feira, 25 de julho de 2014

Criei um blog. O meu primeiro blog, aos 31 anos.
E agora? Tento remexer nas profundezas de mim para escrever algo que faça sentido. Pensamentos vagos, recordações, justificações. Sorrio, abano a cabeça. “És mesmo tontinha!”
Tontinho, chamo muitas vezes tontinho ao meu filho. Neste momento está a dormir, são 21h44. Sexta-feira. Eu na sala, pernas cruzadas, uma pontinha de dor. Ele na cozinha, a saltear pimentos-padrão. Foi a primeira vez que estes pimentos entraram na nossa casa. Eu não gosto, mas até cheiram bem.
Pois é, o blog. Há muito tempo atrás, numa vida longínqua, eu já escrevi bem. Vá, medianamente bem. Tento lembrar-me dessa altura, há uns 15 anos atrás. Uma professora de Português do meu 12º ano disse uma vez que eu fazia resumos melhor do que ela. Chegou a dizê-lo ao meu pai, alto e bom som, que ela falava assim, sem medos. O meu pai atrás do balcão da farmácia, olho azul e bata branca, clientela em fila, velhotes das redondezas, digo eu. E dando o ar da sua graça, gabou-me no meio da farmácia. “E bem alto, toda a gente ouviu”, disse o meu pai, rindo, enquanto almoçávamos.
Sou boa a fazer resumos, pois sou. Não sou de muitas palavras, não gosto de falar muito tempo de seguida. Mania minha, personalidade, feitio, sei lá eu. Podia dizer que nasci assim, mas é mentira. Atiro duas ou três frases, ouço, aceno com a cabeça, sorrio. Interesso-me pelas coisas desinteressantes que vou ouvindo aqui e ali, da boca de estranhos. Às vezes quando tento contar uma história pequenina, atropelam-me e cortam-me a palavra, e ali fico mais uma vez só a ouvir. Melhor assim, eu gosto. Hoje uma senhora que conheci no parque, contou-me desgostosa que o neto dela era muito irrequieto e lhe tinha partido uma moldura. Ela ficou fula, mas não tão fula como da vez em que lhe partiu outra moldura, que tinha sido uma oferta. “Era de cristal e desfez-se em mil bocadinhos”. Eu só lhe queria contar da vez em que o meu filho caíu do sofá e que vi o galo dele crescer qual mini-montanha no meio da testa. Mas ela não deixou. Não faz mal, eu gosto de ouvir. E sorrio.
O tempo tornou-me uma espectadora do mundo.



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